— Na verdade, o que nós combinamos, foi que após um período de 90 dias da experiência você teria um aumento de 8% no salário. Pois então, os 90 dias de experiência terminam hoje, logo, daqui há três meses, ou seja, daqui 90 dias do término da experiência, você receberá o aumento combinado! — Justificou o gerente para a funcionária.
— Mas eu pensei que terminada a experiência de três meses eu já receberia o aumento e não só depois de seis meses de empresa! — Complementa a funcionária, um tanto contrariada.
— Pois é, você entendeu errado. Mas não tem problema! Veja que bom: você passou pela experiência, está indo muito bem e daqui três meses você receberá o aumento combinado. — Completa o gerente já encerrando a conversa e abrindo a porta para a funcionária sair.
Opa! Para tudo! Quem está querendo enganar quem aqui? O diálogo que ilustrei seria apenas o retrato de um mal-entendido ou uma questão semântica? Ou seria ainda uma questão de tempo verbal? O que será que aconteceu? Será que a funcionária entendeu errado ou será que estamos vendo alguém se aproveitando da situação para tirar vantagem?
Depois de vários meses enfrentando o desemprego (para algumas pessoas, muito mais de um ano, às vezes até mais), vendo a pouca reserva financeira chegando no fim ou já completamente terminada e as dívidas se acumulando, a tendência é que o senso crítico e o cuidado nas negociações fiquem seriamente comprometidos. Isso pode levar a pessoa a perder a perspectiva e a aceitar acordos mirabolantes como o ilustrado no diálogo.
Há espertinhos (as) que podem ser encontrados (as), sem muito esforço, pelas empresas de todos os tipos e portes. Mas curiosamente o nível salarial não é o principal desmotivador no ambiente de trabalho. Outros fatores se destacam. Vejamos cinco deles:
Falta de reconhecimento: Ter o resultado do seu trabalho reconhecido por colegas é bacana, mas o reconhecimento que importa é aquele da gestão imediata. Isto é chamado de feedback e consiste em falar, diretamente para a pessoa, qual é a percepção que se está tendo do trabalho que ela realiza. Ou seja, se está bom, dizer porque está bom; se está precisando melhorar, identificar onde precisa melhorar; se não está bom o que pode ser feito em relação a isso.
Clima organizacional ruim: É o clima em última instância que estabelece a sensação de bem-estar dos funcionários no ambiente de trabalho. O clima ruim é caracterizado por rixas, inimizades, agressão verbal (ou pior), desconfiança entre as pessoas, intolerância, bullying, pressão psicológica e outros. O “climão” uma vez instalado no ambiente de trabalho cria uma sensação de incômodo de reversão bastante difícil e demorada.
Más condições de trabalho: Cada tipo de trabalho tem sua característica determinante e quando envolve, por exemplo, exposição dos funcionários a situações insalubres é necessário a utilização de equipamentos especiais denominados EPI (Equipamento de Proteção Individual). Quando não é o caso, as condições para o desempenho das funções do trabalho podem incluir infraestrutura, máquinas, equipamentos e facilidades e todas elas devem estar em plena condição operacional. Quando isso não ocorre há o comprometimento do resultado do trabalho e pior, exposição do (a) trabalhador (a) a riscos que poderiam ser prevenidos.
Assédio moral: Também denominado de ambiente tóxico, caracteriza-se pela relação entre chefia e subordinado que tem como base a humilhação, ameaças e demérito de um em relação ao outro, geralmente da chefia em relação ao funcionário (a).
Frustração de expectativas: Frustrar-se no trabalho é tido por muitos como algo normal que devemos aprender a superar. Dá-se a isso o nome de resiliência. Sim, a frustração faz parte do processo de aprendizagem e da conquista, da luta pelas coisas que almejamos, mas quando o que a determina é um compromisso assumido pela empresa o qual não é cumprido (não importa a razão), o fato desmotiva e quebra o ânimo dos (as) trabalhadores (as).
Viu? A questão salarial não apareceu, pois se o salário está no nível esperado, mas as condições indicadas não estão, ocorre a desmotivação, ao contrário, se todas as cinco condições indicadas são favoráveis, boas mesmo, e o salário poderia melhorar, a tendência do (a) trabalhador (a) é manter-se no emprego.
No Comments