O expediente dela começaria às 8h da manhã. Secretária exemplar, requisitada pelas diretoras e diretores, chegou alguns minutos mais cedo naquela segunda-feira. É daquelas coisas que torcemos para acontecer quando por algum motivo nos atrasamos, mas que só ocorrem quando não precisamos. Mas, tudo bem, nada como alguns minutos de folga antes do expediente para aproveitar um cafezinho, cumprimentar rapidamente alguns colegas que já iniciaram o expediente e aguardar até dar a hora de registrar o ponto e iniciar a jornada do dia.
Logo mais às 8h30 começará a reunião da equipe de recepção e serviços gerais. Na pauta apenas atualização para a semana e comunicados operacionais. O de sempre. A gerente é pontual. Ponto registrado chega ao seu posto de trabalho. Mal sentou e o seu ramal toca. Era a gerente pedindo para antecipar o início da reunião para 8h05. Só deixou suas coisas e foi para a sala de reuniões onde chegou 8h08. Entrando na sala apenas a gerente à esperava!
— Olá, bom dia. Nossa! Só chegamos nós duas? – Perguntou a secretária animada.
— Bom dia. Sim, só nós duas por enquanto. E você está atrasada alguns minutos. — Respondeu a gerente de forma seca.
— Poxa, me desculpe. Algum problema? — Perguntou a secretária com um sorriso entre os lábios.
— Todos! Para começar não pude deixar de observar que hoje, às 7h52 da manhã, você estava segurando uma xícara de café e de conversa com os funcionários que já haviam iniciado o expediente de trabalho. Que tipo de exemplo é esse? Acha que aqui é um botequim para ficar bebericando e batendo papo? Vendo uma Secretária Executiva fazendo isto, logo todos vão pensar que podem sair por aí com uma xícara de café nas mãos passeando pelas mesas de trabalho. Daqui a pouco tem xícara até no banheiro! Notei também que você registrou o ponto à 08h01, quando seu horário é 08h00. Chegou mais cedo, ficou de conversa com colegas em horário de expediente atrapalhando o trabalho deles e ainda registrou o ponto com atraso. Se não bastasse anda pelos corredores como se fosse a ‘dona do pedaço’, chamando a atenção de todo mundo quando passa com esse salto alto que faz esse barulho irritante: tlec, tlec, tlec, tlec… insuportável! Outra coisa que não pude deixar de notar é que você não trouxe o notebook para a reunião que começará às 08h30. Posso saber como você vai secretariar? Vai anotar onde? No seu cérebro de minhoca?
— Mas… — tentou retrucar a pobre secretária, sem sucesso e já com os olhos lacrimejando.
— Sem, mas! O que eu precisava lhe falar e avisar está falado e avisado. Espero, sinceramente, que não se repita ou teremos problemas. Agora vá se recompor e pegar seu notebook para secretariar a reunião que começa daqui a 15 minutos. Não tolerarei mais atrasos e comportamento desajustados como os que flagrei hoje!
…
Sim, há muitos gestores e gestoras que adotam este tom autoritário, nada cordial e até grosseiro, rude mesmo, com seus funcionários. São o que podemos chamar simplesmente de pessoas despreparadas para o cargo que ocupam. E essas pessoas ocupam cargos de chefia em empresas de todos os tipos e portes. Ah! Ok! Você acha que esse é um diálogo fictício? Pois engana-se ele é real e mais comum do que você possa imaginar!
O que gestores que agem desta forma conseguem sendo assim? Despertar o medo nos membros de sua equipe. Quando as pessoas sob este tipo de gestão atuam sob pressão e tem receio de represálias o tempo todo. Elas têm dificuldade em se concentrar nas suas atividades, pois esperam que a qualquer momento serão repreendidas ou até mesmo humilhadas de forma grosseira, rude, dolorosa. Isto tudo desperta um sentimento de revolta dos funcionários que passam a duvidar da competência da gestão.
As empresas cujas equipes tenham na gerência pessoas com este tipo de comportamento e atitude estão criando um passivo trabalhista (pois são passíveis de processo por assédio moral), criam também um passivo emocional nas pessoas tornando o clima organizacional pesado e absolutamente difícil de controlar o ânimo das pessoas para o trabalho. Se não bastasse, com o clima pesado os relacionamentos ficam abalados e os conflitos tendem a aumentar prejudicando a saúde das pessoas e em consequência sua produtividade.
Entendeu por quê?
*Professor Marcus Garcia é palestrante, escritor, pedagogo e mentor. Possui Mestrado em Ciência, Gestão e Tecnologia da Informação, Especialização em Gestão do Conhecimento nas Organizações e Graduação em Pedagogia. Autor de dezenas de livros e artigos nas áreas educacional, gestão de pessoas, carreira e inteligência emocional. Site: http://www.marcusgarcia.com.br
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